O Xamanismo e a Negação

Quando resistir ao agora se torna a raiz do sofrimento.

Na visão xamânica, o sofrimento não nasce da dor, mas da resistência ao que é.

A negação é o movimento do ego que se recusa a aceitar o presente como ele se apresenta — porque aceitar exigiria transformação.

A negação não grita. Ela silencia.
Ela diz:
“Está tudo bem.”
“Isso não me afeta.”
“Não é tão grave assim.”
Enquanto isso, a dor permanece congelada no corpo, na emoção e na memória.

Para os Povos Nativos, a vida é um fluxo contínuo entre nascimento, morte e renascimento. Resistir a um ciclo é interromper a medicina do aprendizado.

Na psicologia, a negação é um mecanismo de autoproteção.
No xamanismo, ela é vista como uma ruptura temporária com o Espírito — um afastamento do ritmo natural da existência.
Negar o que sentimos não nos protege.
Nos aprisiona.

Para os Povos Nativos, a vida acontece em ciclos contínuos de:
• nascimento,
• crescimento,
• morte,
• renascimento.

Negar uma experiência é interromper um ciclo antes que ele se complete.
A negação não é apenas resistência psicológica —
ela é uma tentativa de escapar do rito de passagem.

Na visão ancestral, toda dor não sentida se transforma em estagnação espiritual.
O Ensinamento da Terra: Nada é Negado na Natureza:
A Mãe Terra não nega o inverno.
Não nega a noite.
Não nega a morte.
Tudo é acolhido como parte do grande equilíbrio.
Quando o ser humano nega suas emoções, ele se afasta do ritmo da Terra e entra em conflito com sua própria natureza instintiva.

Negação e Doença na Tradição Ancestral:
Em muitas tradições indígenas, a doença não é vista como punição, mas como mensagem do espírito.
A negação prolongada — do luto, do medo, da tristeza, da raiva — cria um bloqueio energético que, cedo ou tarde, busca expressão no corpo.
Negar sentimentos é negar o corpo.
Negar o corpo é romper com o Espírito.

A Negação na Vida Moderna: Sobreviver sem Sentir:
A sociedade contemporânea ensinou o ser humano a:
• funcionar,
• produzir,
• performar,
• seguir em frente.
Mas não a sentir, integrar e elaborar.

Assim, muitos vivem como se estivessem sempre no verão da alma, enquanto por dentro enfrentam invernos não reconhecidos.
A negação cria uma identidade artificial — forte por fora, fragmentada por dentro.

A Cura Ancestral: A Rendição Consciente
Nas tradições xamânicas, curar não é lutar, mas render-se ao que é.
Rendição não é fraqueza.
É sabedoria profunda.
Rendição é permitir que a experiência complete seu ciclo natural dentro de você.

Quando você aceita sentir:
• o medo encontra descanso,
• a dor encontra passagem,
• a consciência encontra espaço para agir.
Nada sobrevive à luz quando é plenamente acolhido.

A Ilusão do Controle na Vida Contemporânea:
Vivemos em uma cultura que valoriza produtividade, performance e positividade forçada. Não há espaço para sentir, parar ou acolher a vulnerabilidade.

Assim, aprendemos a:
• Negar o cansaço.
• Ignorar o luto.
• Reprimir a raiva.
• Silenciar o medo.
Mas aquilo que é negado não desaparece.

Ele se manifesta como ansiedade, compulsões, adoecimento e vazio existencial.
Na tradição ancestral, aceitar não significa gostar do que acontece, mas parar de lutar contra a realidade.

Aceitar é abrir espaço para que uma inteligência maior — a inteligência da consciência — atue.
A verdadeira cura da negação acontece quando:
• Permitimos sentir sem julgamento.
• Observamos sem tentar consertar.
• Permanecemos presentes sem fugir.

Aquilo que você resiste, persiste.
Aquilo que você acolhe, se transforma.
Você não é o que o ego nega.
Você é a presença que pode acolher tudo.

Quando deixamos de negar o agora, voltamos ao centro da Roda.

E, nesse ponto, não há mais guerra interna — apenas verdade, integração e caminho.

Sabedoria Ancestral do Xamanismo para o Ego.

Quando resistir ao agora se torna a raiz do sofrimento.

Carlos Fernandes